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ÁFRICA DO SUL: Enoturismo

Salve! Voltei da África do Sul há pouco e queria aproveitar que a experiência está fresca na memória para compartilhar com vocês. Os pés já estão aqui no Brasil, mas a cabeça ficou por lá, viajando nas vinícolas e nos vinhos que descobri.

Vinhedos em Constantia | Foto: Álvaro Lima

Talvez caiba me apresentar rapidinho: me chamo Álvaro, sou jornalista e estudo vinho há alguns anos já. Fiz a formação WSET nível 3 e toquei por vários anos o blog Movido a Vinho (ainda ativo no insta como @movidoavinho). Atualmente, viajo quando posso e escrevo quando consigo para contar um pouco das minhas vivências com vinhos. No início de março de 2019, voei para a África do Sul para visitar cerca de 30 vinícolas em 10 dias!

Talvez a coisa mais importante a dizer sobre essa jornada é o seguinte: faltam referências aqui no Brasil para conhecermos os vinhos da África do Sul. É verdade que existem alguns rótulos familiares (e às vezes bem bacanas) como Avondale, Glen Carlou e Nederburg, mas essas marcas são apenas “a ponta do iceberg” em um setor muito bem desenvolvido e especializado.

Vale contextualizar: a África do Sul é o 8º maior produtor de vinhos do mundo (fabricando quase 15,9% do total mundial) e exporta nada menos do que 49% da sua produção! O país conta com 546 vinícolas formalmente estabelecidas e um consumo interno médio de 7,96 litros per capita (cerca de quatro vezes o que o brasileiro consome).* Esse consumo pode estar longe dos recordistas (Itália e França disputam o pódio com cerca de 45 litros!), mas está perto dos norte-americanos, que consomem em média algo em torno de 10,25 litros por ano.

O hall da fama dos vinhos sulafricanos | Foto: Álvaro Lima

Longe dos nossos olhos – e das nossas prateleiras – a África do Sul produz uma imensa quantidade de vinhos excelentes, a preços tão baixos que tenho dificuldade de conter o meu entusiasmo! A indústria de vinho sul-africana é antiga e estimulada pelas políticas governamentais. Ao mesmo tempo, eles têm alguma proteção contra a entrada de rótulos importados, que chegam ao consumidor final com preços semelhantes aos do Brasil (ou seja: bem caros). Essa receita acaba direcionando o mercado para o produto nacional, estimulando o crescimento do setor.

Por sua vez, a grande concorrência interna garante a manutenção de preços justos (semelhante ao que ocorre na Argentina), com vinhos deliciosos em todas as faixas de preço. Eu disse TODAS.

É possível encontrar algumas opções de brancos e tintos leves de cair o queixo na faixa de R$ 25-40. Uma das opções mais populares entre os sul-africanos são os Sauvignon Blanc costeiros: eles têm um frescor que lembra o Vale de Casablanca no Chile e uma complexidade mineral ao estilo neozelandês. Entre os tintos desse preço há opções de Cinsault, Merlot e Pinotage (muitas vezes superiores aos que encontramos no Brasil na faixa de R$ 100).

Foto: Álvaro Lima

Outra curiosidade é que muitos produtores reconhecidos lançam o seu “segundo vinho” nessa faixa de preço: ou seja, eles garantem estilo e qualidade a um preço bem acessível, para entrar na vida dos consumidores sem que eles precisem arcar com o custo de seus vinhos mais caros. É o caso do Mullineux Rouge Kloof Street – que, lá, custa apenas R$ 30! Esse vinho está disponível no Brasil a R$ 109, e ainda considero esse valor justo se comparado com os concorrentes de preço semelhante por aqui.

No intervalo de R$ 35 a R$ 70 já é possível encontrar rótulos premium – vinhos que no Brasil facilmente custariam mais de R$ 250. Vale reforçar que eu estou usando como critério de preço a qualidade, e não os custos de importação! Um bom exemplo nessa margem é o Chenin Blanc fermentado em barrica da Stellenrust: premiado como o melhor do ano pelo guia Platters, o vinho tem qualidade e estrutura para envelhecer uma década ou mais – e nem por isso foi comercializado acima desse preço!

Entre R$ 70 e R$ 130, o céu é o limite. Três dos melhores blends bordaleses que tomei na vida estavam aí nesse intervalo: o Rubicon 2015, da Meerlust, e o Blue Lady 2015, da Warwick, e o Five 2014, da Constantia Glen. Outro exemplo chocante para a nossa realidade: tanto o Eagle’s Nest Shiraz como o Mullineux Shiraz, considerados por vários especialistas como dois dos melhores exemplares desta uva no mundo, custam a fortuna de R$ 100.

Foto: Álvaro Lima

Acho que por hoje já me estendi um pouco, mas deu para passar uma ideia do que é possível encontrar por lá. Na minha viagem, estive em cinco regiões produtoras diferentes (dependendo de como se faz a conta, o país tem um total de 18). Nas próximas postagens, vou me concentrar mais especificamente em cada uma delas e mostrar quais as uvas e os produtores que melhor estão se saindo por lá! Um abraço e até a próxima!

* Os dados são de 2017 (os mais recentes disponíveis) e estão compilados na edição 2019 do guia Platters.


TUDO SOBRE A ÁFRICA DO SUL

  1. Enoturismo na África do Sul – Introdução (você está aqui)
  2. Constantia e seus vinhos secos 
  3. Constantia e o Vin de Constance

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