A uva Gamay
Se você é fã de Pinot Noir, tá na hora de se jogar na Gamay também.
A Gamay é uma uva tinta cujos registros mais antigos datam de meados de 1300 e que tornou-se famosa por produzir os vinhos de Beaujolais, na França. Seu nome vem de um vilarejo muito próximo a Chassagne-Montrachet, na Côte-d’Or (Borgonha), onde era amplamente plantada no passado, antes de ser proibida, em 1395. É uma variedade precoce (que amadurece cedo), de rendimentos altos e que se dá muito bem em regiões de clima fresco e moderado. Costuma gerar vinhos com aromas bastante frutados, como cereja, cereja ácida (ginja) e framboesa.
A maioria dos Gamay de clima moderado tem corpo leve, acidez elevada e pouca estrutura de taninos. Isso os torna muito fáceis de beber, mas, ao mesmo tempo, faz com que não se beneficiem tanto do envelhecimento em garrafa, apesar de haver notáveis exceções. A maioria dos vinhos Gamay, principalmente os famosos Beaujolais Nouveaux, deve ser consumida o mais rápido possível, para que se possa aproveitar melhor seu sabor e frescor.
Em regiões importantes para o cultivo de Gamay, como o Beaujolais, os solos mais relevantes são formados por grandes concentrações de granito, xisto e rochas calcárias. Neste tipo de solo, a uva, já naturalmente ácida, torna-se ainda mais ácida graças ao nível de alcalinidade do solo. Assim, em muitos casos, são utilizadas as técnicas de maceração carbônica, o que, entre outros aspectos, ajuda a reduzir a percepção de acidez no produto final.
A GAMAY COM MACERAÇÃO CARBÔNICA
O processo de maceração carbônica é bastante utilizado nos vinhos elaborados com a Gamay para consumo rápido, tanto no Beaujolais, como no resto do mundo. Trata-se de um processo de fermentação intracelular / enzimática, que pode conferir alguns aromas característicos ao vinho, como banana e tutti-frutti (sabor de chiclete mesmo).
Funciona assim: as uvas são colhidas manualmente para preservar os cachos inteiros e garantir que as peles não sejam quebradas (o que ocorre na colheita mecanizada). Os cachos inteiros, então, são colocados em cubas de aço inox ou de cimento, que são selados e bombeados com dióxido de carbono (CO2). Assim, começa a fermentação intracelular sem a ação de leveduras. Nesta fase de maceração carbônica propriamente dita, pequenas quantidades de álcool e alguns compostos aromáticos característicos são produzidos. Com ajuda da gravidade, no entanto, as uvas no fundo do recipiente acabam sendo esmagadas pelo peso das uvas de cima, liberando mais dióxido de carbono e suco de uva, que começa a fermentar de forma tradicional, com ação das leveduras indígenas presentes nas cascas das uvas. Durante a maceração carbônica, as cadeias de açúcares e de ácido málico (mais agressivo no paladar) são quebradas, tornando os vinhos tintos produzidos desta forma bastante frutados, leves e macios, perfeitos para serem consumidos assim que são lançados.
A GAMAY ALÉM DA MACERAÇÃO CARBÔNICA
Apesar de ser conhecida por seus vinhos jovens, a Gamay também pode gerar vinhos mais estruturados e com capacidade de envelhecer por mais tempo. Os melhores exemplos disso são os vinhos provenientes de alguns dos Crus de Beaujolais, como Moulin-à-Vent, Morgon e Chénas, onde a vinificação, na maioria esmagadora dos casos, é tradicional, com desengace e esmagamento das uvas e maceração mais longa. Nos três Crus citados, os vinhos podem evoluir por até 10 anos e, com o envelhecimento, adquirem notas de folhas e flores secas e começam a se mostrar muito semelhantes aos Pinot Noir da Borgonha.
E por falar em Borgonha, a Gamay também é uma das castas tintas autorizadas por lá. É responsável pelos vinhos tintos dos Mâconnais, além dos Coteaux Bourguignon, dos Bourgogne Passe-Tout-Grain e de alguns Crémant de Bourgogne. Aliás, curiosidade: a Gamay já teve uma importância muito grande na Borgonha, até que, em 1395, preocupado que a variedade ofuscasse Pinot Noir devido a seu alto rendimento, Philippe o Temerário, então Duque da Borgonha, emitiu um decreto proibindo o seu cultivo na região. Assim, ela desapareceu da Côte-d’Or, mas encontrou um lar ao sul da região, no Mâconnais e no Beaujolais. Ainda na França, a Gamay também pode ser encontrada no Vale do Loire.
Para quem deseja conhecer melhor esta uva, a dica é: esqueça o Beaujolais Nouveau e aposte nos Crus de Beaujolais. Eles são pouco explorados e costumam ser ofuscados pelos vizinhos da Borgonha, razão pela qual chegam ao Brasil por valores bem acessíveis.
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